O olhar dela penetrou na minha alma, diz mulher que adotou cadela abandonada em posto de estrada

Lívia Marra

Era uma viagem longa, do interior do estado à Grande São Paulo, quando Priscilla Esteves, 42, decidiu fazer uma parada em um posto de estrada. Só não imaginava que sairia dali com mais um ocupante no carro.

Priscilla conta que logo que estacionou foi recebida por uma cadela, que imediatamente  virou de barriga para cima pedindo carinho. Como resistir?

Para ela, o animal foi abandonado ali e, possivelmente, recebeu algum medicamento para dormir, pois estava sonolento.

Priscilla, que mora em apartamento pequeno e já tem uma cachorra também resgatada, conseguiu apoio da mãe para dar um lar à peluda, que agora se chama Donna.

A cadela é dócil e não estranha pessoas. “Ela ainda chora no portão, acho que quer voltar para o interior”, brinca Priscilla. “Mas logo ela vai se acostumar aqui, pois amor e cuidado não vão faltar.”

Leia o relato da adoção:

Encontrei essa cachorrinha no meio do caminho de uma viajem de mais ou menos 350 km. Saímos de Pirajuí (SP) com destino a Carapicuíba (Grande SP).

Não tinha intenção de parar na estrada, mas como as crianças e minha mãe já estavam um pouco cansadas decidimos parar assim que entramos na rodovia Castello Branco. Ao estacionar o carro, essa cachorrinha já se aproximou e, quando eu desci, ela veio até meus pés e logo virou de barriguinha para cima pedindo carinho.  Ao fazer carinho, percebemos que ela estava bem sonolenta.

Ficamos ali alguns minutos, e como eu ando com ração no carro —para  justamente dar quando algum doguinho aparece no meu caminho—, eu prontamente peguei a ração e um potinho com água fresca, coloquei ao lado da cachorrinha e entramos na lanchonete.

Eu tomei um café com leite, estava ansiosa demais para comer alguma coisa, conversando com minha mãe sobre a possibilidade de aquela cachorrinha ter sido abandonada.

Comentei com minha mãe que, se eu tivesse possibilidade, levaria ela pra morar comigo. Mas moro em apartamento e já tenho uma outra cachorrinha que também foi abandonada na porta do prédio de uma amiga do meu filho mais velho. Nós adotamos a Kafé ainda bebê, e ela fez 3 anos agora dia 9. É de porte médio, meu apartamento é pequeno, então eu jamais iria arrumar outro doguinho.

Donna e Kafé (Arquivo Pessoal)
Donna e Kafé (Arquivo Pessoal)

Mas o olhar daquela cachorrinha do posto penetrou na minha alma e eu não conseguia tirar ela da cabeça. Logo deixei todos na lanchonete comendo e eu fui lá fora atrás dela. Quando cheguei, ela estava com uma funcionária da lanchonete fazendo carinho, e eu já comecei a perguntar sobre a tal cachorrinha.

A funcionária disse que chegou no serviço por volta das 21h e percebeu essa doguinha por ali. Ella nunca tinha visto ela lá antes. Eu insisti na pergunta, e ela me garantiu que não tinha visto e ainda me disse que achava que a cachorrinha tinha sido mesmo abandonada, e que talvez tivessem dado alguma coisa para ela dormir e “não sentir o abandono”, pois estava realmente muito sonolenta.

Eu falei para a mocinha que iria falar com a minha mãe para podermos levar ela dali.

Minha mãe saiu com meu filho e minha sobrinha, e eu contei o que tinha conversado com a funcionária do posto. Minha mãe prontamente falou: vamos levar ela então!

Era tudo o que eu queria ouvir

Minha mãe sempre teve muito medo de animais, sei que a adaptação dela seria um pouco difícil, mas a casa dela tem espaço e eu moro bem próximo, poderia ajudar com meus filhos, sobrinhos, enfim, todos poderiamos cuidar da cadelinha. O que ela precisava era de um lugar, e isso a gente já tinha conseguido.

Ao entrar no carro, a cachorrinha logo deitou no colo da minha sobrinha e assim veio o restante da viajem.

Donna durante a viagem (Arquivo Pessoal)
Donna durante a viagem (Arquivo Pessoal)

Ela é bem dócil, acostumada com pessoas, não estranha ninguém e qualquer um que se aproxima ela logo vira pedindo carinho.

Acho, sim, que ela foi abandonada, pois cachorrinho de rua costuma ser arredio, muitas vezes porque tem medo das pessoas fazerem maldade. Sei disso porque, como eu disse antes, gosto de andar sempre com ração na bolsa ou no carro para dar àqueles que eu encontro e, muitas vezes, eles não chegam perto com medo —ou, quando chegam perto, muitos são agressivos.

Ela não é assim, ela é amorosa demais.

Colocamos o nome de Donna, e ela já está entendendo que esse é o nome dela agora.

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