Tutores recorrem a ração e banho delivery para pets na pandemia

Lívia Marra

A vira-lata Meg costumava passear todo dia, mas agora sai apenas uma vez por semana, quando os tutores vão ao mercado. A ração para as cadelas Nymeria e Babi passou a ser comprada por delivery. Pets têm tomado banho em casa ou em unidades móveis, que vão até o cliente. A pandemia alterou a rotina dos humanos, que precisaram se adaptar e buscar serviços para atender as necessidades do animal.

Em São Paulo, clínicas veterinárias e pet shops podem funcionar, desde que respeitem as normas sanitárias. Mas, em casa devido à quarentena, os tutores têm recorrido a serviços a domicílio.

Felipe Augusto Gentil, 50, proprietário de um pet móvel, diz que foi afetado positivamente pela pandemia. Ele estima um aumento de 15% na procura por seu serviço de banho e tosa.

Com uma van adaptada, Gentil atende em condomínios na região da Saúde (zona sul da capital paulista) com preços que variam de R$ 45 a R$ 90, conforme o trabalho e o tamanho do animal –cão ou gato. Se antes do coronavírus trabalhava sozinho, agora ele tem uma ajudante para dias mais movimentados, e as segundas-feiras não são de folga.

A rotina mudou também na casa da designer Maura Hayas, 51, que mora com o marido, a cadela Meg e sete gatos –um deles de seu irmão. Ela diz que os animais têm bom relacionamento, mas que o confinamento e o home office incomodam, especialmente, os felinos.

Segundo a designer, a cadela está comendo mais e fazendo mais birra quando os tutores saem, mas ela não. O passeio da vira-lata agora é semanal e, na volta, vai direto para o chuveiro.

A veterinária Rosangela Ribeiro Gebara, da Comissão de Bem-Estar Animal do CRMV-SP (Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo), afirma que a recomendação é ainda evitar passeios longos e lugares movimentados. Ela lembra que, no retorno, as patas do pet devem ser higienizadas cuidadosamente com água e sabão neutro. Não devem ser usados álcool, cloro ou outras substâncias que possam causar irritação.

O distanciamento social também levou o engenheiro Maurício Cavalli, 34, a mudar de hábitos. Sua cadela Nymeria ia para a praia aos finais de semana e saía de casa por 40 minutos duas vezes por dia. O tutor diz que parou de levar o animal em ambientes com interação social e que os passeios, agora, duram 20 minutos cada um.

A cadela –da raça pastor branco suíço– chama a atenção por seu porte, e Cavalli afirma que muitas pessoas se aproximam sem máscara para tentar brincar com ela. O engenheiro conta que morava em São Paulo e fez amizades na rua por causa de Nymeria, mas agora, vivendo em Vitória, evita o contato e a interação por causa da pandemia.

Os passeios reduzidos, porém, não são suficientes para a cadela de dois anos gastar energia. Em casa ela quer brincar, correr e chamar a atenção durante o home office do tutor. Ele investiu em brinquedos e em enriquecimento ambiental. Caixa de ovo e garrafa pet com ração são distração por alguns momentos.

Outras mudanças neste período foram os banhos em pet shop, que se tornaram mensais e não mais a cada duas semanas. E a alimentação da cadela e de sua irmã, a shih-tzu Babi, é entregue em casa.

A shih-tzu, de 12 anos, se recupera de uma cirurgia para retirada de nódulo mamário e nem tem saído para passear. Cavalli afirma​ que procurou o veterinário porque Babi apresentava vômito e diarreia e que não hesitou em autorizar a operação.

Com o isolamento, porém, outros serviços deixaram de ter procura, como as hospedagens domiciliares.

A DogHero, por exemplo, informou estar funcionando normalmente, mas que houve uma queda considerável nas hospedagens. Já o serviço de passeios acaba sendo opção a tutores que querem manter a rotina do pet.

Segundo dados do Instituto Pet Brasil, a venda de produtos para animais pela internet disparou no primeiro trimestre deste ano.

Enquanto serviços de banho, tosa, passeadores e creches foram alguns dos afetados pelo isolamento social e incertezas econômicas, o setor de venda por comércio eletrônico teve alta de 65,57% no faturamento —o valor movimentado saltou de R$ 1,49 bilhão para R$ 2,47 bilhões na comparação com mesmo período do ano passado. Produtos veterinários e pet food também cresceram.​

PERGUNTAS E RESPOSTAS

>Pets transmitem Covid-19?
Não há evidências de que animais de estimação transmitam a doença, mas as autoridades monitoram as informações sobre o novo coronavírus. O vírus associado à Covid-19 é diferente daquele já conhecido no meio veterinário e que provoca vômitos e diarreias nos pets –e que não é transmitido aos humanos.

>Estou com Covid-19. Posso ficar com o pet?
Pessoas contaminadas devem manter o isolamento social. A recomendação é evitar proximidade com o bicho porque o contato de uma pessoa infectada pode deixar o vírus em sua pelagem. Contra uma possível transmissão, lave bem as mãos antes e depois de interagir com o animal.

>Posso passear com o cachorro na rua?
O tutor deve obedecer às regras sanitárias de sua cidade. Se não houver restrição, pode sair com o animal, mas a recomendação é de passeio curto, apenas para as necessidades do pet, em horas e locais com menos movimento. Apenas uma pessoa deve acompanhar o cachorro e evitar contato com outros animais e pessoas. Ao voltar para casa, as patas devem ser higienizadas com água e sabão neutro.

>Com qual frequência o animal deve tomar banho?
Com passeios mais curtos, banhos podem ser dados com menos frequência —quinzenal ou mensalmente—, se o animal não tiver problemas dermatológicos que exijam cuidados frequentes, afirma a veterinária Rosangela Ribeiro Gebara. Se optar pelo banho em casa, consulte o veterinário sobre o tipo de xampu indicado. Escovações devem ser mantidas, assim como prevenção conta pulgas e carrapatos.

>Pet shops funcionam?
Na cidade de São Paulo, podem funcionar atividades de saúde animal, além de banho, tosa e hotel para cães desde que sejam prestadores dos serviços de medicina veterinária ou comercializem medicamentos e alimentos para animais. Para o CRMV, caso o tutor não possa dar o banho em casa neste período, deve agendar horário e ir sozinho com o animal, respeitando restrições sanitárias definidas pelas autoridades.

>Devo levar o pet ao veterinário?
A orientação do CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária) é que as clínicas façam apenas o atendimento emergencial e estritamente necessário. Caso o animal apresente alguma alteração, o tutor deve ligar para o veterinário imediatamente e, se necessário, agendar a consulta. Para evitar aglomeração na sala de espera, o estabelecimento pode restringir a entrada de um responsável por animal.

>Como entreter o animal na quarentena?
Com passeios reduzidos, brincadeiras são a forma de o pet gastar energia. Jogar bolinha, esconder o brinquedo preferido, oferecer brinquedos recheáveis e ensinar truques e comandos simples são opções. Gatos podem ficar incomodados com a mudança da rotina, mais gente e barulho em casa. Arranhadores, brinquedos —mesmo que seja uma bolinha de papel amassado— e verticalização do ambiente são formas de agradar aos felinos.​

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