Após fechar rinha de cães, polícia encontra mais 33 pit bulls em chácara em SP

Lívia Marra

Atualizado em 20/12/2019

Em meio às investigações sobre uma rinha de cães, desarticulada em Mairiporã (SP), uma denúncia levou a polícia a localizar mais 33 pit bulls em Itu, interior do estado. Na chácara vive um dos 41 presos na operação do fim de semana.

Os policiais foram ao local nesta segunda-feira (16). Os cães estavam acorrentados, separados uns dos outros.

Segundo a TV Tem, o responsável é um peruano, e os animais estão debilitados. “É lamentável ver o que o ser humano é capaz”, disse Patrícia Daut, da Aspa Itu (Associação de Socorro e Proteção aos Animais), à emissora ao relatar que os cães estão magros, abalados e vivendo em local sujo.

Segundo reportagem exibida pela emissora no dia 19, a chácara pertence a uma empresária, que afirma conhecer o peruano há muitos anos, mas nega que os animais sofriam maus-tratos na propriedade.

O homem teria trabalhado em um restaurante dela, e morava na chácara. A empresária diz que é dona de 14 dos 33 pit bulls e afirma que não sabia do envolvimento do peruano em rinha. Diz, ainda, que quer os animais de volta.

Publicação do deputado Delegado Bruno Lima sobre cães achados em Itu

Os pit bulls encontrados nessa chácara ficarão sob cuidados de ONGs.

No local, segundo a polícia, funcionava uma espécie de centro de treinamento para rinhas, com uso de equipamentos para preparo físico dos animais, como uma esteira. Para a investigação, os animais eram treinados correndo atrás de animais silvestres. Nos cães, eram aplicados anabolizantes e, antes das lutas, testosterona.

41 DETIDOS

A rinha fechada no fim de semana foi localizada após denúncia feita à Polícia Civil do Paraná. As investigações duraram quatro meses, e a operação contou com a Polícia Civil de São Paulo.

No total, 41 pessoas foram detidas no local, incluindo um americano, dois peruanos, dois mexicanos. Também havia um médico e um veterinário.

Nesta segunda, à Justiça determinou fiança para libertar 40 pessoas. O único que permanece na prisão foi apontado como um dos organizadores.

O Conselho Federal de Medicina Veterinária informou que o profissional envolvido tem registro para atuação no estado do Amazonas e que tomará as medidas necessárias “para a apuração dos fatos e tomará as providências cabíveis no que tange à ética profissional”.

RINHA EM MAIRIPORÃ

Cachorro resgatado em Mairiporã

Ao chegar ao loca da rinha, os policiais encontraram dois animais no meio de uma luta; havia outros feridos e até mortos. Carne de cachorro era assada para ser servida aos frequentadores, afirma a polícia.

Era cena de terror, conforme o delegado Matheus Laiola, chefe da DPMA (Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente) do Paraná. “Em 13 anos de polícia, nunca vi nada parecido”, diz.

Segundo ele, a maioria dos policiais se comoveu com a situação dos cães. Havia 19 animais, e dois morreram. Os resgatados estão sob cuidados de Encontrei um Amigo, Pits Ales e Instituto Luisa Mell —para onde foram levados os casos mais graves.

Loiola diz que os pit bulls passavam fome e sede para ficarem estressados. Em um dos cômodos havia soro para reanimar os cães feridos, para, assim, voltarem a brigar.

De acordo com o delegado, os cães resgatados são dóceis, embora treinados para não conviver pacificamente com outros animais. “O problema é o ser humano, não a raça”, lembrou Loiola em uma live.

O delegado diz que o grupo promovia apostas internacionais e era bem organizado —tinha troféu e até camiseta especificando cada animal para a rinha. Canis também devem ser alvos de investigação.

Publicação do policial e defensor da causa animal Felipe Bacari sobre Itu

PUNIÇÃO

A lei que pune maus-tratos a animais é considerada branda, e o caso reacendeu nas redes movimento que pede cadeia para quem praticar esse tipo de crime.

De acordo com a lei nº 9.605/1998, de crimes ambientais, maus-tratos pode render detenção de três meses a um ano, além de multa. A pena pode ser aumentada de um sexto a um terço se ocorrer morte do animal. O responsável, no entanto, dificilmente vai preso. Crimes com punições de até dois anos são considerados de menor potencial ofensivo, e a pena normalmente é convertida em prestação de serviço.

No fim da noite desta segunda, o plenário da Câmara aprovou regime de urgência para o projeto de lei do deputado Fred Costa (Patriota-MG), que aumenta a pena para reclusão no caso de maus-tratos. A comissão especial, então, aprovou texto que prevê reclusão de dois a cinco anos, multa e proibição de guarda de animal, mas apenas em casos de maus-tratos a cães e gatos –texto original previa reclusão de um a quatro anos e multa para maus-tratos a todos os animais. A proposta ainda será votada pelo plenário.

(Foto no alto: Aspa Itu)

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