Após morte de cadela, Carrefour faz parceria com Ampara para treinar funcionários e fazer castrações

Quase um mês após a morte da cadela Manchinha, o Carrefour anunciou nesta quinta-feira (20) uma parceira com a Ampara por ações em prol dos animais em todo o país. Concluído na semana passada, o inquérito apontou um funcionário terceirizado da loja de Osasco (SP) como o responsável pela morte.

A instituição auxiliará em iniciativas internas e externas. Isso inclui a criação de material de treinamento e sensibilização de funcionários e a revisão de procedimentos voltados à abordagem de animais abandonados nas lojas. A ONG também vai auxiliar a rede na coordenação de mutirões de castrações gratuitos em diversas regiões do país e na organização e implementação de eventos de adoção de animais nas lojas.

Segundo o Carrefour, a parceria prevê ainda campanha e ações educativas para sensibilizar consumidores sobre a proteção e defesa dos animais, e o suporte para estruturação do “Pet Day”.

A data foi anunciada no último dia 8, quando uma manifestação foi realizada no estacionamento do mercado para lembrar Manchinha. A previsão é que o “pet day” seja realizado anualmente no dia 28 de novembro —data da morte da cadela— quando, segundo o hipermercado, serão destinados recursos a ONGs e entidades que atuam na causa animal.

A Ampara receberá da rede apoio para o projeto “O Mundo animal de Bibi”, com episódios e livros para conscientização infantil.

Este é o primeiro termo de cooperação assinado “após o triste episódio ocorrido em Osasco“, afirma o Carrefour em nota. “O compromisso da empresa abrange ainda outras ONGs e entidades independentes que também estão colaborando de forma relevante na construção das outras iniciativas que serão anunciadas em breve.”

“ANÚNCIO GENÉRICO”

Protetores que acompanham o caso e mantém reuniões com o Carrefour veem a parceria como um primeiro passo, embora considerem o anúncio “genérico”, segundo a ativista Luisa Mell e Beatriz Silva, da ONG Bendita Adoção.

Para Beatriz, a Ampara agrega força ao movimento em nível nacional, mas defensores têm exigências específicas para Osasco e para o estado de São Paulo, entre elas a doação de suprimentos para santuários de animais.

Ela diz que ONGs não aceitaram assinar um contrato genérico, mas as negociações continuam. Segundo a protetora, é preciso ter um plano esmiuçado a curto, médio e longo prazo, que detalhe, inclusive, o número de castrações a serem feitas.

Luisa Mell, que havia sugerido que a rede bancasse 100 mil castrações em Osasco, concorda com a protetora. De acordo com ela, só com um plano detalhado é possível prever a redução de animais abandonados em uma região.

Em referência à Ampara, a ativista afirma que “toda ajuda é bem-vinda”, mas que faltou a apresentação de uma proposta mais concreta pelo Carrefour, para uma resposta efetiva após a morte da cadela.

Luisa diz que deve voltar a conversar com o hipermercado no próximo ano. Também em 2019, prevê que sua ONG ministre palestra gratuita sobre resgates aos funcionários do Centro de Zoonoses, criticados pela forma como capturaram Manchinha.

MORTE 

Manchinha foi agredida na loja de Osasco (Grande SP), e a morte provocou reações e reacendeu o debate sobre penas mais severas para crimes contra animais.

O inquérito foi enviado à Justiça no dia 13 e indica o segurança como autor do crime. Mais de 20 pessoas foram ouvidas e ficou constatada como causa da morte “hemorragia provocada pela lesão sofrida”, segundo a Secretaria da Segurança.

Agora, deverá ser estipulada a punição ao funcionário terceirizado, que disse à polícia ter acertado o animal com uma barra de alumínio de forma não intencional, após ter sido orientado a retirar a cadela da loja.

O processo corre sob segredo de Justiça. O Carrefour diz que acompanha as investigações e continua colaborando com as autoridades para elucidar o caso.

Maus-tratos é crime de menor potencial ofensivo, ou seja, tem pena prevista inferior a dois anos, normalmente convertida em prestação de serviço.

MANCHINHA

O episódio Manchinha foi marcado por uma série de ações questionadas por protetores.

A morte ocorreu no dia 28, mas o caso só se tornou público dois dias depois, após denúncias pelas redes sociais. O inquérito foi aberto no dia 3, quando o corpo da cadela já havia sido cremado –o que deixou a polícia sem possibilidade de ter um laudo da necropsia.

Sangrando após ter sido atingida pelo funcionário no estacionamento do mercado, a cadela foi capturada com um enforcador pela equipe do Centro de Zoonoses, acionada para o resgate. A cadela chegou a desfalecer durante o procedimento, informou o Carrefour em meio à polêmica.

Socorrido, o animal não resistiu e morreu em seguida. Na ocasião da captura, havia a informação de atropelamento, e não maus-tratos. Com isso, o corpo foi incinerado, procedimento padrão da prefeitura em casos assim.

Sem necropsia, não houve laudo para atestar a causa da morte. O inquérito foi baseado em depoimentos e imagens de câmera de segurança.

A cadela, que vivia no mercado havia alguns dias e era alimentada por alguns funcionários.

O Carrefour afastou o funcionário terceirizado assim que o caso veio à tona e afirmou repudiar maus-tratos e colaborar com as investigações.