Fogos causam pânico em cães; veja dicas para minimizar o sofrimento
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Com a audição muito mais aguçada do que a do ser humano, os cães sofrem com barulhos extremos. Som alto, trovões e, principalmente, fogos de artifício causam pânico em alguns animais. Amedrontados, eles podem se machucar ao tentar se esconder ou fugir.
Tremores, salivação excessiva, inquietação e falta de apetite são sintomas que de o bichinho está em pânico. Animais com problemas de saúde podem ter complicações —e morrer.
“Nos epiléticos as situações de estresse podem ocasionar convulsões”, diz o veterinário Mário Marcondes, diretor clínico do Hospital Veterinário Sena Madureira, em São Paulo.
A unidade afirma receber número maior de cardiopatas descompensados e animais em convulsão na época de festas do fim do ano, devido aos fogos.
Para o zootecnista e especialista em comportamento animal Renato Zanetti, é importante o tutor identificar quando o animal está com medo e quando está em pânico.
“Medo é quando o animal sente que está em perigo, mas não faz coisas estranhas. Já o pânico é um nível maior e faz com que o pet não consiga processar muito bem essa emoção. O pânico impede que tenham a percepção do ambiente, podendo levar o cachorro a atravessar portas de vidro, escalar paredes, subir em telhados e até saltar de muros altos.”
Segundo a veterinária Camila Lozano da Silva, da Petz, o cachorro deve ser levado ao médico caso tenha qualquer tipo de alteração ou se machuque. “Deve ser avaliado para ter certeza que nenhuma lesão mais grave aconteceu.”
O QUE FAZER
Segundo especialistas, o ideal é acostumar cães a barulhos extremos no período de socialização, ainda filhotes.
Para minimizar o sofrimento de animais assustados, no entanto, vale tentar colocar algodão no ouvido (leia dicas abaixo), pegar no colo ou deixar o animal em um cômodo da casa onde o som seja mais abafado. Também é opção distraí-lo com brincadeiras ou com petiscos –e, assim, fazer associações positivas. Se o pet preferir, pode ficar abrigado em algum cantinho da casa, desde que ele se sinta o mais confortável possível.
O importante é manter portas e janelas fechadas —para impedir que ele fuja ou pule— e deixar o ambiente livre de objetos que possam cair ou causar ferimentos, caso o cão, assustado com o barulho, esbarre. Animais presos a correntes também podem sofrer graves ferimentos em um momento de pânico.
Mesmo com todo cuidado em casa, mantenha uma plaquinha de identificação na coleira, caso o bichinho escape.
DICAS
Veja dicas dos especialistas para minimizar o medo nos animais:
>Camila Lozano da Silva, da Petz:
– Vale manter o pet o mais protegido possível, em lugares mais silenciosos e com os sons abafados. Busque por locais fechados e longe de áreas em que o animal possa cair, como lajes abertas, ou longe de áreas onde possa se machucar ou ficar preso de alguma forma numa tentativa de fuga, como áreas pequenas, portões, lanças;
– Mante-lo quieto em um local fechado e silencioso, como um quarto, por exemplo, pode ajudar a se sentir mais protegido;
– Alguns animais toleram bem a colocação de algodões nos ouvidos para abafamento dos sons. O algodão deve ser inserido superficialmente e retirado imediatamente ao término dos ruídos —jamais pode permanecer muito tempo dentro do conduto;
– Alguns animais toleram bem o colo do dono, pois se sentem mais seguros; outros preferem buscar áreas onde possam se esconder, como embaixo de móveis. Deixe o seu pet se ajeitar da melhor maneira e não force situações desconfortáveis.
>Renato Zanetti:
– Abafar o som externo. Deixar o ventilador ligado, colocar uma música calma, fechar janelas e portas;
– Adaptar o cachorro ao ambiente que irá passar o Réveillon, seja em casa sozinho ou em um day care;
– O espaço tem que ser seguro para o cachorro. Todos os possíveis locais que eles possam escapar, devem estar fechados, como portas e janelas;
– É importante disponibilizar tocas para ele se esconder, locais como embaixo da cama, dentro de caixas, dentro do banheiro, dentro da casinha ou uma caixa de transporte;
– Disponibilizar petiscos diferentes ou comidas congeladas e brinquedos recheáveis para distraí-lo e estimulá-lo;
– Se o pet ficar sozinho, o espaço deve ser livre de prateleiras, vidros, objetos de decoração ou porta retrato. Isso evita que ele se machuque.
Para Mário Marcondes, do Sena Madureira, em extremos calmantes podem ser ministrados, mas sempre com critério e sob prescrição do veterinário.
A veterinária Ana Paula Messina, do Laboratório Mundo Animal, diz que outra forma de melhorar o bem-estar dos pets é com suplementação de vitaminas e aminoácidos, como o triptofano –precursor natural do hormônio serotonina. “A suplementação regular de Triptofano, por pelo menos 15 dias antes das festividades, ajuda a livrar o pet da ansiedade, podendo ser observada uma diminuição da agressividade. Por serem produtos naturais, não possuem efeitos colaterais, desde que utilizados conforme indicação do médico veterinário de confiança”, afirma.
FAIXA
A técnica do pano contra o medo, parte do método Tellington Touch, é bastante difundida, mas especialistas divergem sobre seu resultado. Pode ser válido para alguns animais, mas pode deixar outros mais estressados.
A ideia é passar uma faixa no corpinho do animal –por trás do pescoço, cruzar no peito, passar pela pela barriga e amarrar nas costas– para reduzir a tensão. Existem no mercado roupinhas –uma espécie de colete– que prometem o mesmo efeito.
Segundo o zootecnista e especialista em comportamento animal Alexandre Rossi, estudos sugerem que pode haver uma melhora, mas ele lembra que pode ser eficiente para alguns cães, mas não para outros. “É recomendável testar antes no cão para verificar se ele está confortável com o aparato, para não correr o risco de ser mais um fator estressante”, afirma.
Para Renato Zanetti, o benefício são os efeitos relaxantes do ‘toque’ na pele em pontos específicos. “Pense numa massagem, num abraço entre humanos ou shantala, aquela técnica de massagem para bebês. Como efeito acalma, é relaxante e promove prazer. É possível efetivamente se sentir melhor durante a após o contato físico”.
Ele, no entanto, afirma que o uso dessa técnica –surgida na década de 1970– requer treino e prática para não deixar o pet ainda mais irritado.
“O simples fato de trançar uma faixa no cão com o objetivo de deixá-lo com menos medo pode não resultar em qualquer efeito. Feito da forma errada, pode até piorar e gerar mais incômodo ao cão, que já está amedrontado.”