‘Abriu a porta do carro e colocou o cachorrinho para fora’; abandono de animais aumenta nas festas e férias
“Um carro preto passou aqui na rua e abandonou essa coisinha pequena”, diz um internauta em busca de ajuda pra um cão abandonado. “Simplesmente abriu a porta do carro, botou o cachorrinho para fora e foi embora”, afirma outro. “Abandonaram esse lindo cachorro. É dócil e parece estar bem fraquinho e triste. Uma pessoa diz que viu quando um infeliz parou o carro e o abandonou.”
Os relatos, publicados em rede social, são de diferentes cidades e mostram uma rotina no país: o abandono de animais é frequente. E esse quadro aumenta na época das festas de fim de ano e de férias escolares.
Representantes de ONGs e protetores afirmam que, geralmente, os pets não cabem na mudança da família ou nas viagens.
Para Cynthia Macarrão, mulher do especialista em comportamento animal Alexandre Rossi e “mãe” da Estopinha e do Barthô, animais devem ter o mesmo tratamento que os outros integrantes da família.
“Às vezes as pessoas falam: ‘mudei para apartamento e tive que deixar o cachorro’. Eles [animais] são membros da família, como qualquer outro. Se você mudar para um apartamento, você não vai deixar sua avó. Por que você deixaria seu cachorro?”
Protetores recorrem a lar temporário e usam as redes para procurar nova família. Mas nem sempre conseguem uma vida nova para os bichinhos abandonados.
FINAL FELIZ
Alguns, porém, têm mais sorte. No comecinho de dezembro de 2014, uma cadelinha, ainda filhote, foi acolhida depois de procurar abrigo na porta de um imóvel em Belo Horizonte. Hoje, além de linda e amada, é famosa. Só no Instagram, Pérola Carolline tem quase 15 mil seguidores.
A família de Pérola cresceu um ano depois de sua adoção, quando, também em um dezembro, chegou Gregório.
O cãozinho, então filhote, estaria nas ruas desde outubro. “Ele foi abandonado por um carro próximo a uma padaria. A funcionária viu e acionou uma protetora”, diz Neila Caputo, que se apaixonou por uma foto do bichinho em rede social e resolveu adotar.
Pérola e Gregório (Reprodução/Instagram)
SEM COMEMORAÇÃO
Entre fotos fofas e engraçadas, Pérola costuma passar em seu perfil mensagens sobre a importância da adoção e da guarda responsável.
“Não podemos nos esquecer daqueles que não terão nada para comemorar [nas festas de fim de ano]. Aqui em Belo Horizonte vejo os efeitos. Cães, aparentemente bem cuidados, alguns até com coleiras, vagam sem destino pelas ruas”, afirma Neila.
ABANDONO TODO DIA E CRIME
Abandonos acontecem diariamente, e não só no Brasil. Abrigos vivem lotados em muitas cidades do mundo.
Por aqui, além dos abandonados nas ruas, há casos de animais deixados para trás em imóveis fechados e que acabam fugindo. Também há aqueles que se assustam com barulhos, especialmente fogos de artifício, e escapam —e nunca são procurados pelos tutores.
Em 2016, a World Animal Protection Brasil afirmou ao blog que ONGs situadas nas metrópoles denunciam aumento de até 1.000% nas ocorrências de animais abandonados durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro.
Pets demandam cuidado e dão gastos, pontos que devem ser levados em consideração na hora de optar por ter um bichinho em casa.
Abandono e maus-tratos são crimes previstos em lei, mas poucos casos são denunciados e se tornam processo. Além disso, há dificuldade em identificar o tutor.
Não há estimativas oficiais no Brasil, mas, conforme dados divulgados em 2014 pela Organização Mundial da Saúde, são 30 milhões de cães e gatos nas ruas do país.