Ministério aprova medicamento para tratar leishmaniose em cães

O Ministério da Agricultura aprovou o primeiro medicamento no país para tratamento da leishmaniose visceral em cães, e a expectativa é de que ele seja comercializado a partir de 2017. Por enquanto, animais infectados são submetidos à eutanásia.

A leishmaniose é transmitida pelo chamado mosquito-palha e tem nos cães a principal fonte de infecção. No caso dos animais, não havia medicamento autorizado no país. Transmitida a humanos, a doença é grave, mas tem tratamento.

Os testes com o Milteforan foram feitos no final de 2014, com 36 cães, segundo Valdir Carlos Avino, gerente de assuntos regulatório da Virbac, laboratório que pediu a aprovação para distribuir a droga no Brasil.

Avino diz que, ao término, foi constatado que os animais tratados com a droga tinham condição de saúde melhor, sem efeito colateral grave e não transmitiam mais a doença.

Com isso, de acordo com ele, documentos entregues aos ministérios da Agricultura e da Saúde mostraram a eficácia e a segurança do medicamento, que já é comercializado em países europeus como Espanha, Portugal e Grécia.

Segundo o Ministério da Agricultura, o registro do Milteforan foi emitido em 30 de agosto, e o medicamento já foi liberado.

Ainda não há estimativa de quanto o produto –uma solução oral– custará ao consumidor. O medicamento será produzido na França, e a expectativa do laboratório é de que chegue ao mercado em janeiro do ano que vem.

O tratamento é feito com a administração da droga durante 28 dias consecutivos, intervalo de três meses e reavaliação médica no quarto mês, de acordo com Avino.

CAUTELA

Até que o Milteforan chegue ao mercado nacional, não há tratamento para a doença. Continuam proibidos aos cães medicamentos destinados a humanos ou sem aval do ministério.

O Conselho Federal de Medicina Veterinária informou ter enviado ofício no último dia 6 ao Ministério da Agricultura para pedir informações sobre o registro do medicamento e solicitar acesso aos pareceres que embasaram a decisão.

Em nota, ressalta que, até o momento, não há tratamento autorizado no Brasil.

Para o veterinário Leonardo Burlini Soares, assessor técnico do Conselho Regional de Medicina Veterinária  de São Paulo, a novidade ainda é vista com cautela porque o uso do medicamento precisará ser associado a fatores de prevenção, e o cão deverá ser submetido a avaliações periódicas –o que dependerá do comprometimento dos tutores e envolve posse responsável.

“Há a cura clínica do animal, mas ele continua sendo reservatório da doença”, diz.

A DOENÇA

Anteriormente caracterizada como uma zoonose de áreas rurais, a doença tem avançado sobre zonas urbanas.

A leishmaniose é uma doença parasitária, transmitida pelo mosquito flebótomo e que tem no cão o principal reservatório.

Animais não podem ser tratados com produtos para humanos e não havia medicamentos autorizados para o tratamento. A eutanásia era a única orientação.

Segundo Soares, animais infectados podem apresentar sintomas como lesões na pele ou perda de peso, mas há casos assintomáticos, o que dificulta o diagnóstico.

Para os cães, a prevenção inclui coleira e vacina. O Conselho Federal de Medicina Veterinária, no entanto, afirma que “não há constatação de seu custo-benefício e efetividade para o controle de reservatório da leishmaniose visceral canina em programas de saúde pública”.