Grupo faz vaquinha para ajudar moradora de rua doente que se recusa ficar longe dos cães
Angela tem 39 anos e mora nas ruas da região central de São Paulo com o companheiro, Diego, 31, e os dois cães —que o casal considera como filhos. Ela vive um dilema desde que descobriu ter leucemia: fazer tratamento correto ou ficar separada de Spike e Estrela.
Por enquanto, ela mantém a rotina e permanece na rua, ao lado da família.
“O que eles passam para mim e para meu marido é um amor incondicional”, afirma a moradora de rua em um vídeo sobre seu dia a dia. “No final do dia, quando termina o expediente, a gente toma nosso banho e se dedica a dar atenção para eles [os cães]”, diz.
A história do casal –e o amor pelos animais– chamou a atenção do grupo de voluntários Moradores de Rua e Seus Cães (MRSC), que resolveu fazer uma campanha para ajudar Angela. Uma vaquinha tenta arrecadar R$ 50 mil para dar um teto à família, mobília e condições de um tratamento adequado.
Aberta em outubro e com prazo final para o próximo dia 27, a vaquinha se aproximava de R$ 30 mil neste sábado (9).
O futuro do casal começou a mudar nesta semana, quando eles concordaram em deixar Spike e Estrela temporariamente em um hotel parceiro do MRSC e foram a Ibiúna, interior paulista. Ali, ficou acertado, vão trabalhar e morar em um sítio com os cães.
“Será nossa terceira família de volta a uma casa”, afirma o fotógrafo Eduardo Leporo, idealizador do MRSC.
É ele quem se responsabilizou por cuidar do dinheiro arrecadado, já que Angela e Diego não têm conta em banco.
“Vou administrar. Vou mobiliar a casa onde vão morar e trabalhar e custear as idas e vindas ao tratamento, incluindo medicamentos e exames”, afirma. “Eles são família! Nos abrigos teriam que se separar [dos cães].”
Leporo diz não ter detalhes, mas afirma que Angela usa o dinheiro do trabalho que o casal faz com reciclagem para, quando pode, bancar as despesas do tratamento particular. “Custa R$ 1.300 cada consulta e radioterapia.”
Apesar da campanha, o doador ainda não tem acesso a laudos ou atestados sobre a doença de Angela. “Não temos nada. Logo que a grana entrar, vamos documentar tudo”, afirma o fotógrafo.
Em vídeo da campanha, em parceria com a Zee.Dog –patrocinadora do projeto–, Angela diz que Spike e Estrela são as coisas mais importantes de sua vida, além de Deus e do marido.
DE MUDANÇA
Angela, Diego e os cães devem se mudar no próximo dia 15, diz Leporo.
Recentemente, outras campanhas do projeto Moradores de Ruas e Seus Cães ajudaram duas famílias.
Em agosto passado, foi a vez de seu Zé se mudar. Com ele também foram para Itinga (MG) os companheiros de quatro patas, Duque e Tigre.
Em 2015, Pituca ganhou banho, caixa de transporte e guloseimas e foi de São Paulo para Paraty (RJ) com seus pais humanos, que queriam tentar nova vida.
SOLIDARIEDADE
O projeto Moradores de Rua e seus Cães começou a tomar forma há cerca de quatro anos. Desde janeiro do ano passado, o grupo faz ações periódicas, com distribuições de produtos em diferentes pontos da cidade. Depois, passou a promover atendimentos em pontos fixos.
No total, 20 ações desse tipo já ocorreram. Cães ganham coleira, medicamentos, ração e até banho. Para os humanos, conforme o dia, banho, lanche, roupas –e também atenção.
Segundo o fotógrafo Eduardo Leporo, tudo começou quando ele passou a fotografar os moradores de rua e seus cachorros e contar suas histórias nas redes sociais. “Os amigos se empolgaram, e comecei a receber ofertas de doações”.