Uva passa é perigo para cães; saiba quais os riscos de alimentos da ceia

Lívia Marra

Fim de ano chega com uma infinidade de comidinhas gostosas, mas muitas delas são consideradas veneno para os pets.

Podem ocorrer vômitos, diarreias e intoxicações, com risco de morte para o animal, afirma Rodrigo Mainardi, conselheiro e membro da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo.

Um dos mais polêmicos ingredientes da ceia entre os humanos, a uva é item que deve ser mantido longe dos cães.

“Uva passa é um perigo! Ainda não está claro o seu mecanismo, mas a uva passa tem sido frequentemente associada a insuficiência renal aguda. Há alguns sinais não tão específicos de intoxicação como vômitos, hiperatividade seguidos de letargia e depressão. Existem animais que são mais predispostos a este tipo de intoxicação, por exemplo, os já portadores de doenças renais, os senis, os cardiopatas e os filhotes”, afirma a médica veterinária Paula Priscila Correia Costa, professora da Universidade Estadual do Ceará.

Peru, tender, bacalhau… Às vezes é difícil resistir a uma carinha implorando por um pedacinho. Mas o ideal é não oferecer nada da ceia ao pet.

“Seja dado pelo tutor ou ‘roubado’ da mesa numa de suas travessuras, os alimentos que utilizamos nas ceias das festividades de fim de ano têm grande potencial de causar desde sintomas mais simples como náuseas, dores abdominais e diarreias até quadros de pancreatite, arritmias cardíacas e morte”, afirma a veterinária.

Segundo ela, há alimentos que, em pequenas quantidades, não causam grandes prejuízos –como as partes magras de peru e frango. O problema é que os pratos podem estar regados a temperos –alho e cebola, por exemplo, podem causar intoxicação grave.

Além disso, o organismo dos pets não está preparado para uma mudança repentina na alimentação, com excesso de proteína e gordura, diz Mainardi.

“A maioria dos pets é acostumada com ração, ou seja, possui uma flora gastrointestinal preparada para uma dieta completa de composição balanceada”.

Outro vilão para os animais é o chocolate, altamente tóxico.

“Logicamente a resistência individual de cada pet vai dizer o grau de severidade do problema, porém os animais mais sensíveis, o que não quer dizer mais fracos fisicamente, podem evoluir ao óbito”, afirma Mainardi.

PREVENÇÃO

(Fotomontagem/Folhapress)


Carnes, frutas e doces típicos. O que posso oferecer ao meu bichinho?

“A resposta é muito simples: Nada que não tenha sido feito exclusivamente para ele ou que ele não esteja acostumado a comer. Existem no mercado produtos alimentícios veterinários. Faça uso deles ou prepare um cardápio próprio para seu pet com o auxílio do médico veterinário, se isso for tão importante para você. Muitos passam o Réveillon internados por abusos e descuidos no Natal”, afirma Mainardi.

A professora da Universidade Estadual do Ceará lembra que a prevenção é a melhor forma de evitar que o cão passe mal, e que são muitos os pratos da ceia que não podemos compartilhar com o nosso melhor amigo.

“Exemplos mais comuns: salpicão, farofa, rabanada, nozes, uva passa, chocotone , chocolate, panetone, vinho, champanhe, frutas cítricas, tomate, abacate, macadâmia, massa crua de pão, bolo, frituras, alimentos gordurosos… a lista é enorme!”, afirma.

COMEU E PASSOU MAL; E AGORA

Conforme Costa, em quadros de intoxicação com animal consciente é possível induzir o vômito –mas o procedimento precisa orientação do veterinário, por isso, fique com o telefone dele por perto, em caso de emergências.

Nunca medique o bichinho por conta própria. “Procure o médico veterinário o mais breve possível, não dando ouvidos a crendices populares”, alerta Rodrigo Mainardi.

PODE?

A veterinária Camila Lozano, da Petz, lista alguns alimentos da ceia que podem ou não ser ingeridos pelos animais. Confira abaixo as dicas da profissional:
Permitidos:
– chester ou peru – as partes magras, como o peito, são permitidas. As outras podem causar vômito e diarreia devido à concentração de gordura;
– arroz – os pets podem comer apenas sem tempero e em porções pequenas;
– frutas e legumes – banana, batata doce, abóbora, cenoura, brócolis e maçã são permitidos. Mas nada de sal ou açúcar, e devem ser oferecidos em pedaços menores, para facilitar a mastigação e a digestão
Proibidos:
– salpicão – é tipo de mistura denso demais para o estômago dos pets. Além disso, quase sempre, inclui maionese e uva passa –que são proibidos;
– farofa – é alimento rico em sal e gordura oxidada, ou seja, um veneno para os pets;
– rabanada – os animais estão proibidos de comer frituras. E, nesse caso, também contém açúcar;
– panetone/chocotone – além de conter uva proibida uva passa, a massa e as outras frutas cristalizadas têm muito açúcar;  além disso, o chocolate pode intoxicar seriamente o animal;
– nozes – também são proibidas; macadâmias e castanhas do Pará são tóxicas para os cães e podem causar alergia em alguns deles

A veterinária lembra que, como opção, há alimentos desenvolvidos especialmente para os pets, como panetones, bombons e até vinho.

ESTRESSE, HUMANIZAÇÃO, ALIMENTAÇÃO 

O tutor deve evitar o acesso fácil a alimentos perigosos e diminuir situações estressantes para seus pets, afirma Catherine Lenox, médica-veterinária especialista em nutrição e gerente global de comunicação científica da Royal Canin.

“Quando há estresse adicional, como convidados em casa, bem como mais comida ao redor –incluindo alimentos que os seres humanos podem comer, mas que são tóxicos para animais de estimação– há um maior risco de distúrbios gastrintestinais em nossos pets.”

Durante as confraternizações, os convidados podem não se dar conta de que o pet não deve comer restos de comida –e, por isso, devem manter as sobras fora de seu alcance.

A médica veterinária e professora da Universidade do Ceará vê a humanização como um problema para a dieta dos animais.

“Creio que a humanização excessiva dos animais tem se tornado um problema emergente na clínica de pequenos animais. Uma das formas mais frequentes e prejudiciais é a alimentação. Por mais que alguns alimentos sejam considerados saudáveis para humanos, a recíproca não se aplica aos animais. Abacate, cebola e uva são grandes exemplos de alimentos importantíssimos para a dieta humana e que são tóxicos para animais.”