Cães sofrem com barulho de fogos; leia dicas de especialistas para acalmar seu bichinho
Festas de fim de ano, jogos de futebol ou qualquer comemoração que inclua fogos de artifício são, para o animal, sinômino de terror. O resultado são tremores, salivação excessiva, falta de apetite. Alguns tentam se esconder ou fugir –e podem se machucar com gravidade.
Para minimizar os efeitos dos fogos, alguns tutores pegam no colo, outros tentam a técnica de enfaixar áreas do corpo do bichinho. Especialistas ouvidos pelo Bom Pra Cachorro dizem, porém, que algumas medidas, se não aplicadas corretamente, podem deixar o animal mais estressado.
Segundo o zootecnista e especialista em comportamento animal Alexandre Rossi, barulhos altos e fortes significam sinal de perigo. “Alguns cães podem ter reações de medo exacerbadas, ou seja, ficam realmente apavorados”, afirma.
Outros sintomas são inquietação, latidos em excesso, demanda por atenção, diz o especialista em comportamento Renato Zanetti.
“O barulho extremo é percebido como algo ameaçador, um sinal de que um evento que comprometa sua vida está para acontecer. Neste momento, seu organismo prepara ações de ataque ou fuga, o que justifica muitos cães fugirem durante eventos assim.”
Já Ricardo Tamborini afirma que o medo de fogos, trovão ou chuva aflora de acordo com estímulos que o animal recebe em casa.
“Ao contrário do que [os tutores] pensam, pegar no colo ou acariciar é um reforçador, pois o pet está sendo recompensado por apresentar medo. Outra atitude errada é forçar um animal que já apresenta esse medo, a ver fogos ou situações que são desagradáveis a ele. Cães que apresentam essa fobia podem se ferir por conta do pânico. Fugas e desaparecimentos de cães no período de festas de final de ano são também muito comuns”, diz.
O QUE FAZER
Para Alexandre Rossi, o ideal contra o medo extremo seria começar os treinamentos antes da pior época do ano para os cães: dezembro, com festas e rojões e tempestades e trovões.
Porém, durante a barulheira, algumas medidas podem ajudar, como agir naturalmente e deixar o cão ficar onde se sentir confortável. “Se for um cômodo da casa fechado, com um certo isolamento acústico em relação ao barulho, melhor ainda. Colocar uma música ambiente para abafar os sons pode ajudar também.”
Segundo Rossi, o tutor pode investir em brincadeiras e petiscos durante os eventos que causam medo. “Se ele se animar, é uma forma de fazer associações positivas nessas situações.”
De acordo com Renato Zanetti, o correto é acostumar cães a barulhos extremos no período de socialização –que vai até o terceiro mês de idade.
“Porém, se este período ideal já passou, e o cão adulto tem medo de fogos de artifício, o caminho passa a ser outro. Controlar o ambiente se mostra mais viável do que tentar ‘resolver’ o medo”, afirma.
Ele discorda do conceito de que não se deve abraçar o animal e afirma que pegar o bichinho no colo é, sim, válido.
“Durante o pico de pânico decorrente dos fogos de artifício, ofereça o suporte emocional que seu cão precisar. Se pegar no colo ajuda, faça isso.”
Entre outras dicas, Zanetti aponta: deixar o ambiente mais seguro, livre de coisas que possam cair ou quebrar, e evitar portas abertas; não esquecer de identificar o cão com plaquinhas ou coleiras, em caso de fuga; oferecer suporte emocional e deixar o cão em ambiente conhecido –com seu cheiro ou do tutor– e facilitar o local onde ele já dorme ou procura de forma voluntária.
Contra o estresse, Ricardo Tamborini afirma que o tutor deve proporcionar um ambiente seguro, mesmo que esteja na casa de amigos ou viajando.
Uma dica é deixar o animal em local silencioso, longe de pessoas e outros cães. Abrigar o pet em uma caixa de transporte de tamanho adequado, cobrindo com tecido escuro, também pode ajudar.
“Você já deve ter notado que em situações de medo, ou depois de levar uma boa bronca, o seu cão procurou abrigo, em algum local escuro e tranquilo, como por exemplo: em baixo da mesa, atrás do sofá ou em algum outro móvel da casa. Isso acontece por que, diferentemente dos humanos, os cães naturalmente sentem-se seguros em locais escuros, pequenos e tranquilos”, diz.
Outras dicas, de acordo com o veterinário Jorge Morais, da Animal Place, são: não deixar o animal preso a correntes na hora dos fogos para evitar ferimentos e tapar os ouvidos do animal com algodão parafinado (hidrófobo) durante a queima de fogos.
Segundo ele, técnicas de adestramento e o uso de medicamentos e coadjuvantes terapêuticos também são alternativas, desde que sob orientação médica.
AMARRADO
A técnica do pano, parte do método Tellington Touch, é bastante difundida, mas especialistas divergem sobre seu resultado.
A ideia é passar uma faixa no corpinho do animal –por trás do pescoço, cruzar no peito, passar pela pela barriga e amarrar nas costas– para reduzir a tensão. Existem no mercado roupinhas –uma espécie de colete– que prometem o mesmo efeito.
Segundo Alexandre Rossi, estudos sugerem que pode haver uma melhora, mas ele lembra que pode ser eficiente para alguns cães e para outros não. “É recomendável testar antes no cão para verificar se ele está confortável com o aparato, para não correr o risco de ser mais um fator estressante”, afirma.
Para Renato Zanetti, o benefício são os efeitos relaxantes do ‘toque’ na pele em pontos específicos. “Pense numa massagem, num abraço entre humanos ou shantala, aquela técnica de massagem para bebês. Como efeito acalma, é relaxante e promove prazer. É possível efetivamente se sentir melhor durante a após o contato físico”.
Ele, no entanto, afirma que o uso dessa técnica –surgida na década de 1970– requer treino e prática.
“O simples fato de trançar uma faixa no cão com o objetivo de deixá-lo com menos medo pode não resultar em qualquer efeito. Feito da forma errada, pode até piorar e gerar mais incômodo ao cão, que já está amedrontado.”
Ricardo Tamborini também afirma que a técnica só funciona em alguns casos e, conforme o nível de estresse do cão, poderá deixá-lo mais irritado.
“Tocar o cão em pontos estratégicos aumenta o nível de informação sensorial que é transmitida ao cérebro, causando a sensação de segurança e deixando o cão menos agitado. O grande problema é que essa técnica tem sido difundida como a solução, mas ela só funciona em alguns casos. No geral, cães já em nível pânico, não terão qualquer tipo de reação ao passarem por essa técnica. O que pode ocorrer nesse caso, se não houver supervisão, é o cão rasgar as faixas a fim de retirá-las”, diz.